COMENTÀRIOS AO LIVRO "MINDSET"(Jackie Reardon)
"ACTION THINKING/ FRIENDLY EYES/ GOOD MISTAKES/ FEELING"
A aula de ténis é um local excelente para aplicar, desenvolver e reforçar estes conceitos. Vão ajudar a construir uma forma de estar no desporto e na vida, mais equilibrada, tanto para o professor para o aluno.
Na metodologia que proponho, a relação professor/aluno baseia-se numa aprendizagem partilhada, em que os dois se ajudam mutúamente em prol do bom funcionamento da aula.
O treinador sendo um orientador de aprendizagem, tem um papel fundamental na criação de condições para que o desenvolvimento do aluno se processe de forma natural e individualizada.
Esta metodologia baseada em conceitos como a descontracção, fluidez e qualidade de movimento, técnica global e integrada, e estratégia natural, cria condições óptimas para que os princípios do “Mindset” sejam facilmente integrados.
Pode mesmo dizer-se que os pilares de "Mindset" são parte integrante da metodologia "Fluid Ténis".
A descontracção do aluno, a procura de um movimento orgânico e a procura de resolução dos problemas decorrentes do jogo, levam naturalmente a uma atitude de "action thinking", "friendly eyes", "good mistakes" e "feeling".
1 - O ERRO
No jogo de ténis pode dizer-se que, em todas as jogadas, um dos dois jogadores perdeu o ponto. Provocado ou não o erro é uma coisa natural. Acontece a todos, mesmo a Roger Federer.
Na aula de ténis é a mesma coisa. Num drill, troca de bolas ou situação competitiva, o erro também está sempre presente. A forma como o treinador e o aluno lida com ele, pode fazer toda a diferença.
Costumo dizer que "todos erram, mas poucos são os têm a capacidade de corrigir o erro".
O treinador e o aluno têm então que abordar o erro de forma construtiva e não destrutiva.
Estar focado no erro é destruir a auto-estima do aluno e o caminho para o insucesso.
No processo de ensino/aprendizagem o treinador tem que relativizar desde o início o erro do aluno. E o aluno tem que relativizar o seu próprio erro.
Quando se trabalha na qualidade de movimento e/ou estratégia/táctica, uma bola fora ou na rede, não é necessariamente um erro grave ("good mistake"). Tudo tem haver com o objectivo definido.
Lógicamente cometer um erro não é indiferente. Ainda mais se a percentagem de erros for grande.
Neste caso, teremos de analisar e reajustar o procedimento, para recuperar o controle da situação.
Acredito que na prática, ao aplicar os princípios do movimento, aliados a um bom entendimento das regras e filosofia do jogo, vão obrigatóriamente melhorar os níveis de eficácia. A incidência de erros diminui, á medida que aumentam os níveis de satisfação e motivação do aluno.
Logo após o momento em queo aluno executa a acção pretendida e a cumpra minimamente, como é o caso de um "Good mistake", que a nossa intervenção seja imediata:
- "Good mistake!"
- "Boa bola!"
- "Não há problema!"
- "Bom movimento!"
- "Boa estratégia!"
- "A intenção é óptima!"
- "È nisso que estamos a trabalhar!"
- "Mantêm o que estás a fazer porque vai aumentar as probabilidades de jogar dentro!",
- "Mantêm a qualidade!"
Este tipo de comunicação com o aluno leva-o a estar focado no que é importante ("action thinking"), e a evitar que o stress se instale em virtude dos pensamentos negativos decorrentes do erro ("history thinking").
No que diz respeito á qualidade de movimento, há sempre aspectos positivos a retirar da execução de um gesto, mesmo que tenha resultado num erro ("good mistakes").
2 - "FRIENDLY EYES"
Se entendermos o erro de forma positiva, podemos também vê-lo com "friendly eyes".
"Friendly eyes" é encarar o que envolve a pratica desportiva sem julgamentos, o que contribui para que seja possivel a concentração no que é fundamental. O aluno deve compreender o seu papel, o do seu oponente, treinador, etc. sem julgar, aceitando simplesmente o comportamento de cada um.
Eis alguns exemplos de comunicação que o treinador deverá ter para o aluno, que poderão contribuir para desenvolver o "friendly eyes":
- "Deixa-o jogar (o oponente) como entender, é o seu problema!"
- "Cada um faz o que achar melhor do seu lado do campo!"
- "Concentra-te no teu jogo!"
- "Ele está a ter aquele tipo de comportamento! Deixa estar!"
- "Tira partido disso! Com certeza que não está concentradono jogo!"
O treinador tem um papel decisivo nestes aspectos. A intervenção constante, alertando para a necessidade de o aluno ter esta forma de estar em campo, é fundamental. O treinador tem que entender que não há erros, mas sim formas menos correctas e eficazes de fazer as coisas.
Muitas vezes quando o aluno fez algo que eu entendo que podia ter ainda mais qualidade, posso dizer-lhe:
- "Fizeste bem, mas penso que podia ser melhor se fizesses isto ou aquilo. Experimenta e depois logo vemos se o resultado foi benéfico!"
- "Todos têm a sua forma de fazer o movimento, mas.........!"
- "O que interessa é que tu encontres a forma mais simples e eficaz de resolver a situação! Experimenta fazer desta forma. Pode ser que seja melhor para ti!"
3 - "ACTION THINKING"
O estado de alerta, a consciência do corpo, movimento e jogo, conduzem o aluno para um estado de concentração que vai ao encontro do "action thinking": A estar focado na acção, no presente, no imediato, permite-lhe níveis de rendimento mais elevados.
Exemplo de comunicação dirigida ao aluno, no que diz respeito ao "action thinking":
Dizer ao aluno:
- "Esquece a jogada anterior!"
- "A próxima vai ser diferente! Porque não há duas jogadas iguais!"
- "Boa ou má, não há duas jogadas iguais!"
- "Concentra-te no momento!"
- "Foca-te na bola!"
- "O lado do serviço e resposta está sempre a mudar!"
- "Isto é como no cinema. Acção! Clac!"
- "Limpa todos os pensamentos!"
- "Deixa a jogada acontecer!"
- "Deixa o corpo jogar!"
- "Foca-te na acção!"
Quando se está na "action thinking", aumentamos a capacidade de reagir á bola do adversário melhoramos a análise das situações, a capacidade de encontrar a solução mais rapidamente e adequada, a capacidade de sucesso da acção e a capacidade de criar condições para nos prepararmos para a acção seguinte.
4 - RESPONSABILIDADE
O aluno passa a ser o elo mais forte na aprendizagem. È importante a responsabilização do aluno relativamente á sua performance e evolução. A qualidade da aula deve reflectir uma forte responsabilização do aluno.
Depois de o aluno já ter feito algo correctamente, se o deixa de fazer, temos que o responsabilizar pelo facto.
Exemplos de comunicação:
- "Já fizeste bem!"
- "Tu és capaz de o fazer!"
- "Agora procura encontrar novamente o que fazias!"
- "Visualiza o que fazias!"
- "Já mostraste que tens capacidade para o fazer!"
- "Quem faz uma vez, é capaz de o fazer mais vezes!"
- "Já conseguimos (treinador e aluno) construir um bom movimento, agora está do teu lado!"
- "Não vou dizer nada agora! Está do teu lado a responsabilidade de corrigir! Arranja estratégias!"
Este tipo de diálogo, centrado no aluno, é fundamental nesta metodologia que procura explorar e desenvolver a individualidade de cada um.
Numas aulas de Dança Contemporânea a que assisti, a professora após qualquer tipo de intervenção perguntava: "Sim? Não? Mais ou menos?"
Qual era o objectivo? Ter o feedback do aluno, no sentido de:
- Percebeu a instrução?
- Faz sentido?
- O quê que ele acha?
- Deu resultado?
- Quer que ela repita?
Esta forma de intervenção pode e deve ser utilizada nas nossas aulas de ténis. O aluno tem sempre uma palavra a dizer quando se trata da sua performance.
5 - "FEELING"
Esta metodologia tem uma forte componente de "feeling". A intuição, o deixar que as coisas aconteçam com naturalidade, sem medos nem tensões, é um objectivo muito forte desta metodologia.
As estratégias são encontradas naturalmente.
Dizer ao aluno:
- "Deixa o teu corpo jogar!"
- "Deixa as pancadas fluírem!"
- "Deixa as coisas acontecerem!"
- "Respira e deixa ir!"
- "Liberta-te! Descontrai! A estratégia vem naturalmente!"
- "Sente onde o podes desequilibrar!"
- "A bola está curta! Vai! Avança! Põe o teu adversário desconfortável!"
- "Não penses! Faz"
6 - AUTO CONFIANÇA
O facto desta abordagem procurar o melhor de cada um, respeitando as suas características morfológicas e psicológicas e desenvolvendo-as constantemente, vai fazer com que o aluno ganhe confiança nas suas capacidades e acredite que pode atingir os objectivos por ele propostos.
Todas as formas de comunicação anteriores, promovem a auto confiança. Se o aluno começar a por em causa as suas capacidades, há outras formas de comunicar.
Quando o aluno começa a reagir negativamente ao insucesso o treinador poderá incentivar desta forma:
- "Tu és igual aos outros. Também tens duas pernas, dois braços, e cabeça!" (comentário de Ruan Dias, treinador da selecção Portuguesa de Voleibol acerca dos seus jogadores após o 8º lugar no Campeonato Mundial na Argentina)
- "Se os outros conseguem, tu também és capaz!"
- "Não somos menos que ninguêm!"
7 - CONCLUSÂO
Todas estas formas de comunicar entre o treinador e o aluno, vão influenciar sobremaneira a forma, presente e futura, do aluno jogar em situação competitiva e na própria vida.
O treinador pode planear os exercícios de acordo com os princípios da metodologia e também adoptar algumas estratégias que criem condições para que possa ser trabalhado o factor mental, tão importante no jogo de Ténis.
8 - ORGANIZAÇÂO DA AULA
1 – Alunos com contacto muito frequente com a bola: mais acção e poucos tempos mortos.
2 – Maior número de exercícios.
3 – Equilíbrio das capacidades de cada um, com os desafios propostos.
4 – Variação constante de movimentos técnicos.
5 – Integrar os movimentos técnicos nas diferentes zonas do campo.
6 – Exercícios em que o aluno tenha oportunidade de adoptar a estratégia que entender.
7 - Criar situações de troca de bolas entre jogadores desde o inicio .
8 – Criar situações competitivas.
9 – Adaptação do material: dimensão do campo, altura da rede, bola, raquetes.
10 – Utilização material diverso: Pinos, círculos, cordas, etc.